A toxina botulínica (TxB) é um grupo de proteínas derivado das Clostridium botulinum, bactérias anaeróbicas gram-positivas. Hoje essa neurotoxina é amplamente utilizada para fins estéticos e também apresenta inúmeros usos terapêuticos, inclusive o controle da dor. Continue lendo para saber mais.
O grupo de proteínas teve seu primeiro registro indireto no início do século 19, em uma publicação sobre o botulismo, de autoria do médico Justinus Kerner. Entretanto, o agente bacteriano e o mecanismo de ação responsável pela toxicidade da doença foram descobertos apenas no fim do século, desta vez pelo bacteriologista Emile van Ermengem.
Dos sorotipos imunologicamente distintos conhecidos até hoje, sete são observados por conta da especificidade antígeno: A, B, C1, D, E, F, e G. Apesar de não ser considerada uma neurotoxina, uma oitava proteína, a TxB-C2, também é produzida.
Hoje já se sabe que a toxina botulínica age entre as terminações nervosas e o músculo, desta forma inibindo a liberação da acetilcolina e interrompendo o ciclo de contração e dor, mas sem causar qualquer efeito colateral. Isso acontece porque a toxina “se liga ao receptor colinérgico na extremidade nervosa e entra na terminação nervosa por endocitose. A cadeia leve da toxina é liberada no citosol e cliva proteínas do complexo SNARE quebrando a ligação peptídica do transportador de proteínas para bloquear a exocitose e a secreção de acetilcolina” (PAI, 2020). Entretanto, embora todos os sorotipos sejam capazes de bloquear a liberação da acetilcolina na terminação nervosa, eles reúnem características e mecanismos de ação diferentes.
Atualmente apenas dois sorotipos são comercializados, a toxina botulínica Tipo A, a mais utilizada e com a melhor janela terapêutica, e a toxina botulínica Tipo B, com potencial em constante estudo e evolução. Ambos são agentes biológicos obtidos laboratorialmente, portanto cristalinos e estáveis, além de liofilizados. Possuem características variantes conforme o sorotipo e peso molecular entre 300 a 900 kDa, que difere conforme os métodos de purificação e análise.
A popularidade da toxina botulínica iniciou nos anos 90, quando o National Institutes of Health incluiu o complexo de proteínas na lista de medicamentos seguros e eficientes. Desde então, novos usos e estudos com diferentes métodos de aplicação estão a surgir.
Usos da toxina botulínica na estética
No segmento estético, a toxina botulínica Tipo A é altamente popular entre o público dos esteticistas e pode ser aplicada apenas por profissionais da área médica especializados na técnica, como cirurgiões plásticos, dermatologistas, oftalmologistas, biomédicos, dentistas e farmacêuticos esteta.
A toxina é muito utilizada pela função de paralisante muscular, especialmente pelos benefícios proporcionados nas rugas ocasionadas pelo movimento da pele. O número de aplicações varia conforme as características físicas e o grau de necessidade de cada paciente. O período inicial de efeito e o tempo de regeneração também difere conforme a finalidade para o uso da toxina. Alguns dos principais usos em forma cosmética são:
- Prevenir e minimizar linhas de expressão
- Modelação de sobrancelhas
- Hiperidrose
- Cicatrizes hipertróficas
- Rosácea
- Oleosidade da pele
Usos da toxina botulínica no tratamento para dor
No segmento terapêutico, as aplicações de toxina botulínica, especialmente TxB-A, são de grande auxílio no tratamento de dores crônicas musculares e neuropáticas. A atividade antinociceptiva amplamente demonstrada de TxBA é principalmente mediada pelo bloqueio da liberação de neuromoduladores inflamatório e pela inibição do mecanismo de fusão nas células neuronais. Desta forma, a toxina botulínica é opção de tratamento para dores como:
- Nos ombros e pescoço
- Espasticidade
- Cefaleias em geral
Embora a toxina botulínica seja mais indicada para o tratamento de dores crônicas que não foram solucionadas com o fisioterapia e acupuntura, a associação das terapias é importante. O uso da proteína para o tratamento da síndrome dolorosa miofascial é um desses casos, tende a ser bastante positivo quando associado ao acompanhamento fisioterápico. Já entre os casos em evolução, a redução da atividade muscular proporcionada pela toxina botulínica tipo A tem mostrado promissora em estudos que acompanham o controle do bruxismo com a proteína, visto que o paciente pode ter esse quadro solucionado temporariamente de forma simples, minimamente invasiva e com custo não tão alto.
Quando a dor crônica não é resultante da contração dos músculos, os benefícios da toxina botulínica são associados em parte à redução dos neuromediadores e peptídeos relacionados aos genes da calcitonina. Ela, que já é uma importante alternativa no tratamento da enxaqueca, vem sendo estudada como uma uma terapia para a isquemia periférica, assim como agente redutor da dor em casos de osteoartrite e artrite reumatoide.
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