Precisamos, cada vez mais, colocar a saúde do homem em pauta. A quebra de tabus em relação ao exame de toque retal desempenha um papel crucial no diagnóstico precoce de doenças, principalmente do câncer de próstata. No Brasil, a resistência cultural e o desconforto em torno desse procedimento muitas vezes levam os homens a evitar ou adiar a realização do exame, o que pode impedir o completo sucesso no tratamento de uma doença.
Uma outra parte dos homens acaba optando por realizar somente o exame PSA, deixando o exame de toque retal como complementar no caso de alterações no resultado do primeiro exame. Vale lembrar que esse não é o protocolo indicado pela Sociedade Brasileira de Urologia. Segundo a SBU, homens com sintomas que tenham a partir de 45 anos e, sem sintomas, a partir de 50 anos devem realizar o exame de toque retal e a dosagem de PSA. Em caso de alterações, outros exames podem ser solicitados.
Entenda o que é PSA
O exame PSA, ou antígeno prostático específico, é um exame de sangue que mede a quantidade de uma proteína chamada antígeno prostático específico (PSA) no sangue. O PSA é produzido pela próstata, uma glândula masculina que fica localizada abaixo da bexiga e à frente do reto.
O exame PSA é usado para detectar o câncer de próstata, uma doença que é a segunda causa de morte por câncer em homens. O câncer de próstata pode ser curado se diagnosticado precocemente.
O exame PSA é recomendado para homens a partir de 45 anos de idade. Homens com histórico familiar de câncer de próstata devem começar a fazer o exame mais cedo, a partir dos 40 anos.
O exame PSA é feito com uma simples coleta de sangue. O sangue é coletado da veia do braço e enviado para um laboratório para análise.
Os resultados do exame PSA são interpretados pelo médico. Um resultado normal de PSA é inferior a 4 ng/mL. Um resultado elevado de PSA pode indicar a presença de câncer de próstata, mas também pode ser causado por outras condições, como infecção, inflamação ou hiperplasia prostática benigna (HPB).
O exame PSA é um exame importante para a detecção precoce do câncer de próstata. No entanto, é importante lembrar que o exame não é 100% preciso e pode dar resultados falsos positivos ou negativos.
De acordo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), o câncer de próstata é o segundo mais comum entre os homens brasileiros, ficando atrás apenas do câncer de pele. Embora seja uma doença comum, por medo ou por desconhecimento, muitos homens preferem não conversar sobre esse assunto e acabam por evitar o exame de toque retal. Infelizmente, essa resistência a uma das principais ferramentas para identificar alterações na próstata contribui para o diagnóstico tardio e, consequentemente, para taxas de mortalidade mais elevadas.
Fato é que, assim como na grande maioria dos tumores malignos, o diagnóstico precoce do câncer de próstata está associado a índices mais altos de sobrevivência. Sendo assim, a conscientização e a aceitação desse método são fundamentais para a saúde global masculina.
A abordagem cultural em relação à masculinidade muitas vezes contribui para a relutância dos homens em buscar cuidados médicos preventivos. A campanha internacional “Movember”, que no Brasil é mais conhecida como Novembro Azul, destaca a importância de quebrar esses estigmas e incentivar os homens a cuidarem de sua saúde, incluindo a realização de exames de rotina como o toque retal.
Apesar de todos os esforços das campanhas de conscientização, aspectos sociais, culturais e psicológicos também podem estar envolvidos na resistência da população masculina em relação ao diagnóstico precoce do câncer de próstata.
Ainda hoje, muitos homens ainda associam o exame de toque retal com a homossexualidade, o que pode gerar um sentimento de vergonha ou desconforto. Isso ocorre porque o exame envolve a introdução de um dedo no reto, que é uma região associada à sexualidade.
A masculinidade, muitas vezes, é associada à força, à virilidade e à resistência à dor. O exame de toque retal, por sua vez, é visto por alguns homens como uma invasão da sua privacidade e da sua masculinidade. Para eles, o exame é visto como uma forma de “efeminização” ou de “fraqueza”.
Além disso, o câncer de próstata pode ser associado a homens idosos, o que pode levar alguns homens mais jovens a acreditarem que não estão em risco. Soma-se a isso, o fato de que o câncer de próstata é frequentemente tratado com cirurgia, que pode causar efeitos colaterais, como impotência e incontinência urinária. Isso pode levar alguns homens a evitar o exame, temendo os possíveis resultados.
Não menos importante, o medo de realizar o exame de toque retal é comum, mesmo que não estejam relacionados a preconceitos em relação à masculinidade ou ao câncer de próstata. Isso pode ser causado por experiências negativas anteriores, como abuso sexual ou dor anal.
Por isso, um ponto muito importante das campanhas voltadas à prevenção do câncer de próstata é a promoção de conversas sobre comportamento e saúde mental dos homens, aspecto fundamental para a conscientização sobre a importância do protagonismo maculino no cuidado com a própria saúde.
Educação e conscientização são ferramentas poderosas para mudar esse cenário. Campanhas de saúde pública, iniciativas governamentais e ações promovidas por organizações não governamentais têm um papel vital em desmistificar o exame de toque retal e destacar sua relevância na prevenção e diagnóstico precoce. Elas reforçam a necessidade de superar essas barreiras culturais, promovendo uma mudança de mentalidade que valorize a prevenção e o autocuidado masculino, garantindo uma vida mais saudável e longeva.