Pacientes em tratamento de câncer frequentemente apresentam manifestações bucais em consequência do efeito colateral da quimioterapia e radioterapia. Essas manifestações podem ser graves e interferir nos resultados do tratamento, levando a complicações sistêmicas importantes, podendo afetar diretamente a qualidade de vida e o prognóstico do paciente.
Dentre as alterações bucais mais comuns nos pacientes oncológicos, a mucosite oral é o efeito colateral agudo de maior frequência, podendo levar à descontinuação do tratamento e comprometimento do controle tumoral, gerando impacto na sobrevida. Uma vez instalada, a mucosite limita a ingestão alimentar em função da dor, podendo contribuir para o agravamento do quadro clínico e aumento da morbimortalidade.
Clinicamente, a mucosite consiste na inflamação da mucosa da boca iniciando com a presença de vermelhidão e edema, e progredindo para o desenvolvimento de úlceras. A ulceração resulta em dor severa que muitas vezes impossibilita a ingestão via oral. A mucosite pode ainda servir de porta de entrada a infecções oportunistas, podendo resultar em um quadro de sepse (infecção generalizada), apontadas como principais causas de mortalidade em pacientes oncológicos.
A Odontologia pode intervir nesses processos, realizando o tratamento clínico adequado das lesões e também atuando preventivamente para reduzir essas complicações com tratamento a laser de baixa intensidade. Os efeitos positivos da terapia com laser como método de prevenção e tratamento para pacientes com mucosite têm sido descritos na literatura. O laser de baixa intensidade não influencia na temperatura do tecido, não causando queimaduras e apresenta alivio da dor pela habilidade de desencadear reações que reduzem a inflamação e a dor. A literatura descreve que a laserterapia é bem tolerada, com imediato alívio da dor em 67% pacientes logo após a primeira aplicação. Outros estudos demonstram uma redução significativa da dor relatada antes e após aplicação da laserterapia, confirmando que a terapia se relaciona com o alivio da dor, além de acelerar a cicatrização das lesões. É extremamente importante o diagnóstico e tratamento eficaz do quadro, porque essa patologia pode agravar o quadro clínico oncológico e diminuir a sobrevida do paciente. Estudos publicados pelo grupo de pesquisadores do INCA (Instituto Nacional do Câncer) demonstram que as lesões desta natureza podem levar até 40 dias para cicatrizar. Com o tratamento da laserterapia, as úlceras tendem a cicatrizar em até 6 dias, sendo portanto, extremamente eficaz na prevenção e tratamento das lesões.
Dra Luciana Corsetti Slaviero
Cirurgiã-dentista – Odontopediatra
Habilitação em Odontologia Hospitalar e Laserterapia
CRO 10563
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