Desde que eu me conheço por gente eu me considero uma pessoa feliz. Tenho para mim, que felicidade independe de circunstâncias, é quase como se fosse um pacto interno, íntimo que nos define um jeito de levar a vida. A minha felicidade está atrelada ao sentido que eu dou para aquilo que eu vivo. Penso, estou viva e a vida espera algo de mim.
Talvez por isso eu tem desenvolvido um sentimento de gratidão perante o mundo e as pessoas. Me sinto grata, por tudo que eu vivi nestes 51 anos. E vou dizer não foi uma vida fácil, desde a infância o que me sobrou em positividade me faltou em saúde. Das doenças infantis, conto nos dedos as que eu não tive, a mais séria meningite. Quase um ano antes eu havia sofrido um acidente de carro que me deixou no hospital por algum tempo, eu tinha seis anos e voei pelo vidro do carona, após a capotagem. Na vida adulta eu tive uma boa trégua do destino, mas aos 41 anos o câncer chegou na minha vida e modificou a minha rotina para sempre! Hoje tenho três tumores curados e uma nova identidade, paciente oncológica. A vida com o câncer trouxe muitas dificuldades, dias muito ruins. Tive momentos que eu me senti no fundo do poço, mas mesmo diante disso, minha decisão foi me manter feliz e positiva, eu caia e me levantava fortalecida.
Essa forma de encarar a vida é fruto de uma espiritualidade que eu vivo desde a infância, sou ligada a uma ideia de um Deus Pai misericordioso que está olhando por mim. Nos momentos difíceis me sinto amparada e minhas devoções me salvam. Além disso, tenho uma família que é uma benção e muitos amigos. Recebi muito amor e atenção durante as minhas desventuras. No fim das contas me acho uma sortuda, fazer o que se vivo nesta síndrome de Poliana?
Luciane Bernardes, 51 anos
Pedagoga