A Organização Mundial da Saúde (OMS) define como uso racional de medicamentos quando o paciente utiliza os remédios apropriados às necessidades clínicas, em doses e períodos adequados às particularidades individuais. No entanto, o consumo de medicamentos de forma irracional, principalmente pelo hábito da medicação por conta própria, é visto como um problema de saúde pública no Brasil e no mundo. De acordo com a Associação Brasileira da Indústria Farmacêutica (Abifarma), 80 milhões de pessoas tomam remédios sem nenhuma prescrição médica.
Conforme a Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz), entre as classes de medicamentos mais procuradas por iniciativa do próprio consumidor está a dos analgésicos, antitérmicos, antiinflamatórios, descongestionantes, antibióticos, anti-helmínticos e antimicóticos. Estudos do Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (SINTOX) mostram que os medicamentos ocupam a primeira posição entre os três principais agentes causadores de intoxicações, estando à frente de produtos de limpeza, agrotóxicos e alimentos estragados.
Um estudo realizado em 2012 pelo Centro Multidisciplinar da Dor (RJ) revelou dados preocupantes sobre o tema da automedicação no Brasil. Do total dos entrevistados, 51% tinham como referência as indicações de pessoas próximas não qualificadas. Dados do estudo também apontaram as principais razões para a automedicação: infecção respiratória alta (19%), dor de cabeça (12%) e má digestão (7,3%). Observou-se ainda que em 24% dos casos o motivo da procura por remédios tinha relação com sintomas de dor (de cabeça, muscular, cólica e outros) e 21% estavam associados a quadros viróticos ou infecciosos (infecção respiratória alta e diarreia). Outro destaque da pesquisa foi o alto índice de utilização de analgésicos simples, anti-inflamatórios, relaxantes musculares e ansiolíticos.
Sinal Amarelo
O uso constante e indevido de analgésicos para dor de cabeça, febre e gripe, por exemplo, pode aumentar a incidência de dor de cabeça em longo prazo, alterar a coagulação do sangue, causar sangramento, diarreia, náusea e vômito. Os diuréticos, quando mal administrados, podem eliminar água e sais minerais importantes para o corpo, como potássio, cálcio, magnésio e sódio. Já o uso frequente de laxantes provoca alterações na mucosa do intestino, causando irritações e inflamações crônicas. Além disso, os anti-inflamatórios que agem contra dores de garganta, apenas para citar essa classificação, podem desencadear problemas gastrointestinais.
Outros efeitos adversos relacionados ao uso indiscriminado dos medicamentos são a possibilidade de desencadear processos alérgicos e os perigos do uso combinado com outras medicações, ou seja, um fármaco poderá interferir na ação de outro e provocar sérios danos ao organismo. O uso inadequado de um medicamento pode ainda piorar o quadro clínico de um paciente, aumentando a dificuldade para tratar doenças já diagnosticadas, além de esconder sintomas de graves problemas de saúde.
Por razões culturais ou pela ausência de um controle mais rígido, o fato é que a automedicação é um perigoso hábito praticado por grande parte da população, sendo de extrema responsabilidade nesse processo a atuação do profissional farmacêutico, que deve zelar pela manutenção da prescrição médica, orientando o paciente sobre a correta administração.
É de fundamental importância ter conhecimento sobre os efeitos antes de ingerir qualquer substância química. Por isso, procure a orientação de profissionais capacitados para receitar medicamentos, preservando a sua saúde e evitando problemas mais graves.